Para pensar bem, é importante dormir bem.
O sono é essencial na regularização de energia e para a homeostase: pelo controlo da temperatura, que diminui quando dormimos, e pela regularização do controlo energético, por via alimentar, num balanço entre o que nos tira a vontade de comer (a leptina, produzida à noite) e o que nos aumenta o apetite (a orexina, produzida de dia, e a grelina, segregada ao fim do dia).
Durante o ciclo de sono:
- Há uma reparação das fibras de colagénio e das moléculas de ácido hialurónico: é o que torna a pele brilhante e firme.
- Há um equilíbrio do balanço hídrico: é o que evita os papos nos olhos e as olheiras e atenua as rugas.
- São produzidas hormonas que permitem a reparação dos tecidos, designadamente hormonas do crescimento: é o que evita as rugas e o ar cinzento e baço da pele.
O sono tem uma higiene própria que não pode ser descurada.
Neste caso, há vários hábitos nefastos, dos quais:
- A sensibilidade à cafeína é variável. Algumas pessoas só passam a ter consequências a partir de certa idade, mas a cafeína produz insónia porque se liga aos recetores da adenosina, impedindo a sua recaptação. Assim, a adenosina persiste com níveis elevados, e isso dificulta o sono.
- O álcool facilita o adormecimento, mas torna o sono mais superficial. Para além disso, reduz ou inibe os reflexos que regulam a respiração, e provoca uma atonia dos músculos respiratórios. No seu conjunto, estas ações facilitam as apneias, pelo que doentes que ressonam e que têm apneias, não devem beber álcool ao jantar, nem depois disso. As pessoas que sofrem de movimentos periódicos do sono também são afetadas pela ingestão de álcool.
- As refeições pesadas à noite dificultam o sono e tornam-no mais difícil e superficial. Deve ter-se refeições regulares ao longo do dia, mais abundantes no início e mais ligeiras para o fim do dia.
- O tabaco deve evitar-se, pois em excesso funciona como estimulante. É importante não esquecer os efeitos negativos do tabaco sobre o sistema cardiovascular, nem os riscos acrescidos de doença cancerígena.
- O sedentarismo é mau para a saúde. Com efeito, a OMS aconselha no mínimo 3,5h de exercício por semana: 70% dos portugueses não o faz. O exercício é essencial para uma boa qualidade de sono, principalmente se for feito de manhã ou de tarde. À noite pode dificultar o adormecimento pelo que deve ser evitado.
Para além destes fatores, outros como dormir num quarto quente ou frio de mais, em zonas muito ruidosas, ter luz no quarto por não encerrar as persianas, são igualmente prejudiciais ao sono.
Ter de cuidar de alguém, e dormir com animais domésticos, poderão ser igualmente prejudiciais.
A higiene do sono enquadra-se na higiene da vida. É tão importante ou mais do que a higiene do corpo.
Não se esqueça de que tem relógios no corpo e na cabeça, relógios biológicos verdadeiros que medem o corpo tão bem como o seu relógio de pulso. Esses relógios são uma enorme vantagem biológica e não gostam de ser desregulados, nem que mude de horários todos os dias, nem que varie muito nas suas horas de deitar, de levantar e de dormir.
CONSEQUENCIAS DA PRIVAÇÃO DE SONO:
- Sonolência, fadiga e falta de vigor;
- Ansiedade e irritabilidade;
- Falta de concentração, confusão e depressão – Porque durante o sono reequilibramos as nossas emoções reforçamos as nossas memórias, damos força às nossas aprendizagens;
- Afeta as capacidades cognitivas (memória, aprendizagem e criatividade), as funções executivas e as capacidades emocionais, essenciais à execução de tarefas intelectuais;
- Distorção de perceção, defeitos de compreensão da linguagem verbal e alucinações;
- Lapsos e acidentes – Porque durante o sono organizamos o metabolismo das proteínas;
- Aumenta o risco de doenças infeciosas e eventualmente, autoimunes e eleva o risco de cancro-Porque durante o sono há um reequilíbrio imunológico;
-Diminuiu o desempenho psicomotor;
- Risco de hipertensão arterial, porque aumenta a produção matinal de cortisol (a hormona do stress), e constitui risco de diabetes porque aumenta a resistência à insulina;
- Obesidade – Porque durante o sono repomos o equilíbrio dos lípidos. Porque a privação de sono reduz a produção de leptina (que nos reduz o apetite) e aumenta a produção de orexina (que estimula o apetita). Por outro lado, o jantar tardio coincide com a produção de grelina pelo estomago que, favorece a absorção de alimentos. Por sua vez, o stress aumenta a produção de corticoides endógenos, que conduzem também a obesidade. Durante o sono são produzidas, de forma regular e sistemática, as hormonas anabolizantes (a hormona do crescimento, a prolactina e a testosterona), e são controladas as hormonas catabolizante, com maior relevo para o cortisol e a hormona estimulante tiroidea;
- Aumenta o risco de diabetes tipo II – Porque durante o sono se restabelece o equilíbrio de hidratos de carbono.
Existem diversas patologias associadas à má higiene de sono.
INSÓNIA PSICOFISIOLÓGICA- O problema dominante do paciente está centrado no sono, na incapacidade e no medo de não ser capaz de dormir e no receio das consequências para o dia-a-dia. Geralmente a insónia começa por um problema da vida, mas depois tende a arrastar-se independentemente dos problemas. É mais frequente em mulheres. O doente tem um medo horrível de não dormir, e encara com ansiedade o momento de se deitar. Muitas vezes, à noite, leva os seus problemas para a cama e matuta nas questões quotidianas.
SÍNDROME DAS PERNAS INQUIETAS – Tem uma prevalência elevada, cerca de 5-10%, e aparece na idade média de vida, pelos 40-50 anos. Estes doentes apresentam uma inquietação nas pernas que surge no adormecimento ou para o fim do dia. Tem sensação de dor, queimadura, ou então uma sensação inexplicável que os leva a mexer as pernas. Os sintomas melhoram com o movimento. Estas manifestações dificultam o início do sono, e só de madrugada consegue adormecer. Por isso, quando acorda, esta cansado e com dores de cabeça.
A fisiopatologia das pernas inquietas é ainda mal conhecida: existe uma disfunção central do sistema dopaminérgico (núcleo caudado e putámen), com perturbação na integração central sensorial e motora, isto é, uma perturbação sensorial (a sensação esquisita ou disestesia) transforma-se numa manifestação motora (o movimento involuntário) e existem também erros no metabolismo central de ferro.
É também comum história familiar, com envolvimento de vários elementos da família. Em casos não familiares, pode associar-se a anemia ou a baixa de ferro e ferritina, pode surgir insuficiência renal e nas polineuropatias, ou seja, nas doenças de nervos periféricos.
FIBROMIALGIA – Doença multifatorial, de causa ainda desconhecida, que inclui os seguintes sintomas: dores músculo-esqueléticas difusas, acima e abaixo da cintura, bilaterais; presença de pelo menos, 11 pontos dolorosos, em 18 localizações predefinidas; fadiga acentuada para as tarefas quotidianas; insónia, com dificuldade em dormir e sensação de estar a dormir acordado; síndrome das pernas inquietas; depressão, ansiedade e irritabilidade; dores de cabeça; lapsos de memória e «brancas»; boca e mucosas secas; alteração do trânsito intestinal e cólon irritável; disfunção sexual; dificuldade no controlo da temperatura, principalmente em ambientes frios; flutuações dos sintomas ao longo do dia, com padrão circadiano; possibilidade de associação a outras doenças reumáticas.
RESSONAR – Ressonar implica uma restrição ou obstrução das vias aéreas superiores, o que aumenta a sua resistência à circulação do ar durante a respiração. A vibração dos tecidos moles é responsável pelo ruido que se ouve.
As causas variam. Pode acontecer em casos de obstrução nasal (inflamações, desvio do septo, etc.), em casos de respiração oral (doentes com lúmen reduzido das vias aéreas superiores ou obstrução na transição da oro para a nasofaringe) ou em situações com configuração facial especifica.
APNEIA DO SONO – A apneia do sono atinge 4-5% da população adulta masculina e 2-3% da feminina. A apneia é uma paragem da respiração. Durante a apneia o coração bate mais lentamente, o oxigénio no sangue baixa, e há um aumento da pressão do tórax e no abdómen. Em consequência de múltiplos despertares, o sono torna-se fragmentado e superficial. O paciente está sempre a acordar sem dar por isso. É, pois, um problema grave que deve ser tratado, uma vez que tem consequências nefastas para a saúde dos doentes.
NARCOLEPSIA – Doença caracterizada por: sonolência diurna, com microssomos irresistíveis, e com sonhos frequentes; cataplexia (episódios de falta de força, sem perda dos sentidos, desencadeada por uma emoção ou susto, com perda progressiva de segmentos do corpo, podendo chegar à queda total); paralisia do sono (acorda de noite e não é capaz de se mexer); alucinações hipnagógicas (vê ou sente coisas estranhas, por vezes ameaçadores ou assustadoras no adormecer); há uma tendência para o aumento de peso e depressão. Doença caracterizada por: sonolência diurna, com microssomos irresistíveis, e com sonhos frequentes; cataplexia, paralisia do sono, alucinações hipnagógicas, há uma tendência para o aumento de peso e depressão. A narcolepsia é uma doença que atinge cerca de 2 a 4,7 em cada 10.000 pessoas, tem por isso uma prevalência semelhante à da esclerose múltipla. Em Portugal há cerca de 2.000 a 4.000 narcopléticos. É uma doença autoimune, na qual há destruição das células do hipotálamo que produzem orexina (ou hipocretina), havendo uma baixa acentuada neste neurotransmissor no sistema nervoso central.
HIPERONIRISMO – Caracterizado por excesso de sono. O facto de acontecer, leva à conclusão de que a pessoa acorda muitas vezes, tem um sono superficial ou um excesso de sono REM ou sono paradoxal.
Adormecer habitualmente depois das 2h da manhã é considerado uma doença – Síndrome de Atraso da Fase do Sono.
Se sofre de insónia, não se conforme. Pode tratar-se!
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